#EP 46 – Para além da visão: o risco oculto das telas na infância e adolescência

Convidada: Dra. Vanessa Cavalieri

Apresentadora: Dra Júlia Rossetto

Neste episódio, conversamos sobre o risco oculto das telas na infância e adolescência com a Dra. Vanessa Cavalieri, Juíza titular da Vara daInfância e Juventude do Rio de Janeiro, Coordenadora do CEJUSC de Justiça Restaurativa do TJRJ e Professora de direito da criança e doadolescente.

Falamos sobre os riscos que as crianças e adolescentes estão expostas quando usam abusivamente e sem monitorização as telas, sobre as mídias mais perigosas e sobre ferramentas para orientação parental.

Podemos montar as seguintes artes?

  1. Aquela clássica com título do podcast, nome e foto da convidada (em anexo) e nome da Dra Júlia Rossetto como apresentadora
  2. Título: Para além da visão: o risco oculto das telas na infância e adolescência.
    1. Riscos (além dos oculares) do uso abusivo das telas em crianças e jovens 
    2. Sinais para reconhecer uso impróprio das telas
    3. Ferramentas para monitoramento das telas por parte dos cuidadores
    4. Ouça o SBOPcast e acesse o evento gravado na área de membro!

Tópicos a serem discutidos – MINUTAGEM 

  • Qual a sua vivência e como chegou a trabalhar nesta esfera que lida com a parte legal que envolve o uso das telas e a infância? 1:00
  • Quais os maiores riscos que as crianças e jovens estão expostos e quais os sinais para reconhecer isso? 3:50
  • Exemplos práticos de crianças e adolescentes vítimas de violências nas redes. 9:10
  • Quais as mídias sociais mais perigosas para os adolescentes? 12:15
  • Quando dar um celular e o acesso às mídias sociais para os adolescentes 16:50
  • Quais ferramentas para monitorar o uso do celular e da internet? 23:50
  • Mensagem final: 35:25
Links citados:

Site do Ministério da Justiça para orientação parental:
https://www.gov.br/mj/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/deboanarede

App de Controle Parental QUSTODIO
Wait until eight https://www.waituntil8th.org/

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Júlia: Olá, esse é o SBOPcast, o podcast da Sociedade Brasileira de oftalmologia pediátrica que traz pra você as novidades da oftalmopediatria discutindo os temas e trabalhos científicos mais relevantes da área em conversas com especialistas num formato de bate-papo.

Júlia: Eu sou a Júlia Rossetto, atual presidente da SBOP, e hoje eu vou falar com a doutora Vanessa Cavaliere, que é juíza titular da Vara da Infância e Juventude do Rio de Janeiro, coordenadora do CESJUSC, de Justiça Restaurativa do TJRJ e professora de Direito da Criança e do Adolescente. E nós vamos falar hoje sobre, para além da visão, o risco oculto das telas na infância e na adolescência. Seja bem-vinda, doutora Vanessa!

Vanessa: Obrigada, Júlia. Eu que agradeço a oportunidade de estar participando do podcast. É um prazer enorme.

Júlia: E nós oftalmologistas, a gente está muito acostumado a falar dos riscos da tela para a visão. A gente fala sobre estrabismo, sobre miopia, sobre olho seco, mas eu queria que você contasse um pouquinho para a gente um risco que está bem além disso e que está muito na sua vivência. Conta pra gente como é que você foi trabalhar nessa esfera que envolve o uso da tela em a infância e a adolescência.

Vanessa: Bom, a gente começou recebendo alguns casos na Vara da Infância e Juventude aqui do Rio, onde eu atuo relativa à violência nas escolas, ataques à escola e outros tipos de violências. E aí eu comecei a me debruçar sobre esse fenômeno da violência na escola, praticada por adolescentes. E aí a gente começou a perceber que havia um percurso, uma trajetória, que esses adolescentes envolvidos em casos de violência extrema, percorrem antes de resolver planejar um ataque em escola. E esse caminho passava por isolamento social na escola, por episódios de bullying e por uso da tecnologia sem supervisão parental. E aí a partir daí a gente começou a desenvolver um protocolo mesmo de prevenção à violência escolar. Hoje ele está bem completo, chama-se Protocolo Eu Te Vejo, é uma iniciativa da Vara da Infância, do Sejusque de Justiça Restaurativa, a gente já está com um projeto piloto em algumas escolas do Rio. E então percebi a necessidade de começar a conversar com os pais; em várias escolas eu tenho ido conversar, fazer palestras para os pais, falando, alertando-os sobre a importância do cuidado com o uso da tecnologia que a gente precisar ter com os nossos filhos. Eu falo nós, porque além de ser juízo eu também sou mãe de adolescentes, então me coloco nessas duas personagens aí, não só como alguém que está na ponta pelo Estado, mas também alguém que dentro de casa tem esse desafio. E o que a gente percebe é que os pais não têm a menor ideia do perigo que existe do uso da tecnologia sem supervisão, do uso das redes sociais sem supervisão. E a partir daí a gente começou a fazer esse trabalho, que tem um foco na questão da segurança de como a internet e as redes sociais são um espaço perigoso, eu gosto de falar que o lugar mais perigoso onde uma criança ou um adolescente pode estar sozinho hoje é numa rede social e é o lugar onde eles ficam sozinhos. Então tem essa questão da segurança e também tem a questão da saúde, além do que você tem falado a respeito dos riscos e do prejuízo oftalmológico do uso excessivo das telas, mas existe também uma questão do vício, de uma questão comportamental de como as redes sociais são viciantes, já estão sendo equiparadas as drogas e como estão por trás do adoecimento da saúde mental de crianças e adolescentes, esse quadro que a gente vive mundialmente hoje em dia que tem relação direta com o uso excessivo de telas.

Júlia: E é engraçado que você falou da segurança, a gente sempre pensa, eu também moro no Rio de Janeiro, a gente pensa onde que vai, como vai, que é arriscado sair na rua, mas às vezes eles estão correndo risco debaixo do nosso teto e a gente não consegue nem imaginar. O que você mais vê nesses adolescentes ou nessas crianças, quais riscos que eles estão sujeitos e os sinais que a gente pode perceber, para quem ainda não está começando a reconhecer isso e saber que precisa suspeitar pois pode estar acontecendo alguma coisa que a gente não está sabendo.

Vanessa: Bom, em relação aos riscos, vamos dizer assim, o que a gente percebe? Existe um desconhecimento do público, das pessoas em geral, sobre o que é adolescência. A própria existência da adolescência como fase de desenvolvimento humano, se a gente olhar para Medicina, para Psiquiatria, para Neurociência, para Psicologia, é tudo muito recente na história da humanidade, há 100 anos atrás se considerava que o ser humano pulava da infância para a vida adulta; com 13, 14 anos as meninas já estavam casando,
e as pessoas ainda acham que quando chega na adolescência, quando a pessoa chega ali com 12, 13, 14 anos, que ela já pode ter certa autonomia, certas liberdades e os pais muitas vezes param de tomar conta, então quando a gente olha, por exemplo, os dados de morte acidental de crianças e adolescentes, a gente tem uma faixa etária, onde mais
acontece esse tipo de morte, que é de 0 a 2 anos, pelas razões óbvias, a criança pequenininha não tem menor noção do perigo, então basta que o adulto que está tomando conta, olhe para o lado, se distrai por um momento, a criança cai da janela, é atropelada, se afoga, etc. E depois a gente tem um declínio nessa curva de mortes e ela começa a cair ao longo do avanço dos anos da infância, mas quando chega na faixa etária de 11 a 15 anos de idade, você tem de novo um pico de mortes acidentais muito alto, e como é que a gente explica isso?
A gente explica com dois fenômenos, um fenômeno que é neurocientífico, então o fato de que eu estou falando aqui para médicos, o público, na maioria de médicos já sabem
disso, mas eu vou falar aqui porque pode ser que só para refrescar e também pode ser que tem alguém que não é da área médica que esteja escutando. O que acontece é que a gente tem um cérebro humano imaturo, que o córtex pré-frontal não está formado, não está ainda maduro, desenvolvido, funcionando do jeito que ele foi feito para funcionar, então aquele controle inibitório, aquele raciocínio lógico, aquele antes de agir, o controle do comportamento impulsivo, ele ainda não está funcionando. Então o adolescente toma as decisões dele, todos tomam decisões, as crianças tomam decisões, diariamente o ser humano toma decisões, só que o adolescente toma as decisões do que ele vai fazer não, vamos dizer assim, comandado pelo córtex pré-frontal e sim na amígdala cerebral, então ele faz não o que é melhor para ele, o que vai fazer
com que ele a médio e longo prazo, colhe as consequências boas que ele quer colher, o que é emocionante, o que dá prazer imediato, o que gera adrenalina, o que é divertido,
e aí a gente junta esse fenômeno neurocientífico, que a gente tem uma expressão que é a onipotência juvenil, ou seja, o adolescente tem certeza absoluta de que ele é imortal, ele pode sentar no parapeito do décimo andar para fazer uma selfie, ele não vai cair de lá e vai morrer, ele pode atravessar na rua, no meio dos carros, numa avenida movimentada, ele não vai ser atropelado, ele pode subir nas pedras do arpoador num dia de ressaca que não vai vir uma onda e não vai levar ele, e a gente vê esse tipo de morte acontecendo entre adolescentes com muita frequência, e ao mesmo tempo a gente tem uma característica comportamental de muitos pais e mães de adolescentes que é parar de ver o que o filho está fazendo, porque confia que educou o filho bem, ensinou os riscos ao filho e ele vai se comportar de acordo com esse ensinamento, e embora o adolescente saiba os riscos, conheça o risco, ele não se comporta de acordo com esse ensinamento, porque ele tem certeza que ele é imortal. E o que acontece em relação às redes sociais? As redes sociais são, como eu falei, o lugar mais perigoso onde uma criança e um adolescente podem estar sozinhos hoje em dia, e os pais têm muito medo de deixar os filhos saírem sozinhos, pegarem um ônibus ou um metrô sozinhos, irem a praia sozinhos, mas os pais deixam os filhos sozinhos nesse lugar perigoso, frequentado pelas pessoas mais perigosas da sociedade, psicopatas, abusadores, pedófilos, criminosos de toda espécie, que é esse lugar, um lugar virtual, que são as redes sociais. Então muitas vezes o filho está dentro de casa, está no quarto, com o celular, sem supervisão, os pais estão na sala vendo televisão ou conversando e acham que o filho está seguro, mas o filho não está seguro. Então o que a gente tem feito é tentar sensibilizar as famílias, os pais, os responsáveis por crianças e adolescentes, do perigo que existe de uso das redes sociais sem supervisão por uma pessoa que não está madura para fazer isso.

Júlia: Você falou bastante coisas, você quer dar algum exemplo prático assim? Porque eu acho que isso tudo que você falou, a gente consegue entender essa mecânica na adolescência e essa irreverência que eles têm? Você quer, só pra gente ilustrar coisas do dia a dia que pode surpreender a gente, pra gente entender mais ou menos qual é a rotina, o que você já viu que é comum acontecer?

Vanessa: Bom, o aliciamento de adolescentes, crianças e adolescentes nas redes sociais é muito frequente.
A gente teve aqui no Rio de Janeiro ano passado uma menina de 12 anos que desde os 10 conversava com um homem adulto de 22 anos pelo TikTok, o TikTok e o Instagram são as redes mais usadas por crianças e adolescentes. E determinado momento ele morava no Maranhão, ele veio ao Rio de Janeiro e ele a sequestrou. Ele a sequestrou sem a família saber, levou ela pro Maranhão, a princípio com um consenso dela. Obviamente é um consenso que não é válido porque é uma criança, mas ela queria ir
com ele sem menor noção do que estava fazendo. Quando chegou lá na cidade de destino, ele tirou o celular dela, deu um novo celular pra ela de forma que a família não pudesse localizar. E ela, quando percebeu que ela estava sequestrada e privada da liberdade, ela ficou muito aflita e acabou conseguindo acessar o Facebook da irmã dela pelo wi-fi da loja onde ele a levou pra comprar roupa, e então ela foi localizada pela polícia. Isso foi um exemplo que eu vi frequentando as páginas do jornal.
A gente tem uma menina em Curitiba que se envolveu com um professor adulto, um homem adulto de 40 anos. Ela tinha 14 anos, ela o conheceu pelas redes sociais
e ele também a sequestrou, levou pra outra cidade. A família ficou atrás e acabou, por fim localizando, mas depois de uma perseguição assim, digno de cinema.
A gente tem uma menina que foi morta pelo namorado essa semana. O namorado de 40 anos, ela tinha 13 e 14 anos, ela se relacionava com ele desde os 12 anos, ela o conheceu nas redes sociais. Quando ela decidiu terminar a relação, ele deu um tiro na cabeça dela e se matou em seguida.
E o que é importante a gente falar é que todos essas situações, todos esses relacionamentos das crianças ou dos adolescentes com pessoas adultas mal intencionadas, eles perduraram durante muito tempo. As famílias poderiam ter interrompido esse ciclo de aliciamento, de abuso, se as famílias estivessem fazendo a sua parte, que é monitorar o uso das redes sociais. A gente hoje já reconhece juridicamente como uma nova forma de violência contra crianças e adolescentes praticada pelas famílias, que é o abandono digital.
Então a gente já tinha o abandono material, que é quando, por exemplo, os pais não dão comida, os meios necessários de sobrevivência, o abandono intelectual quando uma criança não é matriculada na escola. E agora a gente tem o abandono digital, que é justamente permitir o uso da tecnologia sem supervisão para pessoas de menor idade. E as famílias não percebem esse risco muitas vezes.

Júlia: E as redes que você destacou são as que mais acontecem isso? E os perfis geralmente são falsos? As pessoas se apresentam como uma coisa que elas não são? Ou geralmente essas pessoas mais velhas de fato se apresentam assim? Porque às vezes eu vejo, você vê crianças no TikTok? Às vezes até com supervisão, vendo perfis que têm bonecas ou coisas assim, que são justamente para atrair esse público e começar uma conversa que às vezes as crianças estão iludidas, estão falando com outras pessoas. Isso acontece ou geralmente é o perfil mesmo da pessoa? E esse interesse até talvez da irreverência juvenil, né, que tá se relacionando, ou tem interesse de uma pessoa mais velha? Como é que costuma ser essa abordagem?

Vanessa: Bom, você me fez duas perguntas, né? Em relação às redes, na verdade existe hoje uma rede que é a mais nociva e é que nenhum adolescente, nenhuma criança deveria frequentar, que é o Discord. Então, por que o Discord é tão perigoso? A gente teve recentemente um caso de crimes muito graves realizados utilizando Discord, isso foi até tema de uma reportagem do Fantástico, eu tive acesso a essa investigação por causa do meu trabalho. Por que que tem de tão diferente no Discord? É que o Discord é uma rede social, geralmente os pais nem conhecem, os adolescentes todos conhecem e usam. É uma rede social que funciona com salas de bate-papo, com câmera ao vivo e nada fica com conteúdo gravado. O que acontece é que o Discord não monitora, ele não tem um algoritmo que monitore conteúdo criminoso, como por exemplo o Instagram tem. Então, se você começar uma live no Instagram, se alguém começar com conteúdo criminoso, por exemplo, com estupros de uma criança ou automutilação na live, crueldade com animais na live, muito provavelmente essa live vai ser derrubada pelo algoritmo do Instagram em pouco tempo, em alguns minutos. O Discord não faz isso, então como não há um monitoramento do conteúdo permanente pelo algoritmo da rede, ele é usado para praticar crimes. E ele então passou a ser procurado por pessoas que têm conteúdo criminoso, têm intenção de usar a rede criminosa. Então, por exemplo, quase todos os ataques em escola que a gente teve esse ano no Brasil, teve um ataque no Rio de Janeiro, teve em São Paulo, teve em Santa Catarina, teve ao longo
do Brasil em vários lugares. Todos eles eram combinados através do Discord. Esse outro grupo criminoso que praticou crimes através do Discord, eles aliciavam meninas, sempre meninas, as vítimas, assim, muito novinhas, de 12, 13 anos. Eles escolhiam as vítimas que tinham uma determinada vulnerabilidade, por exemplo, que eram meninas que já relatavam nas suas redes sociais, que já tinham tido transtorno alimentar, ou que já tinham tido depressão, ou que já tinham tentado se suicidar, ou que tinham sido obesas e que tinham emagrecido, que tinham questões com a imagem. E aí eles escolhiam
essas meninas com esse perfil de uma fragilidade emocional e também que tinham muitos seguidores. E aí eles primeiro aliciavam essas meninas, convencendo-as a participar desses grupos, bater papo e tal, e em algum momento eles convenciam elas a tirarem uma foto, mostrarem uma imagem, fazerem uma imagem de uma parte do corpo explícita, do seio, da parte íntima dela e tal. E aí eles faziam um print e começavam a chantagear essas meninas. De que forma? Eles investigavam a vida
pessoal delas, então descobriram onde moravam, qual colégio estudavam, onde o pai trabalha, qual o nome do chefe, quantos irmãos têm. E com essas informações pessoais, eles passavam a chantagear essas meninas e eles diziam assim, agora você é minha escrava e você vai fazer tudo que eu estou mandando. E aí eles mandavam as meninas matar animais ao vivo, animais domésticos, assim, cortar a cabeça do gato, tudo ao vivo no Discord, fazer sexo com animais domésticos, se cortarem, se automutilarem, se enforcarem com corda, enfim, as coisas mais cruéis. E tudo assim, adolescentes fazendo isso, os agressores eram adolescentes, as vítimas eram adolescentes, e tudo isso acontecia dentro de casa, dentro do quarto, enquanto a mãe e o pai estavam dentro de casa. Então assim, um simples monitoramento das redes sociais, do uso da tecnologia pelos pais e jovens poderia ter evitado situações como essas: em que se combinavam ataques na escola que e vidas se perdessem, e que essas meninas tivessem sido vítimas, às vezes, por muito tempo de atos tão cruéis.

Júlia: E assim, você tá falando disso, eu acho que uma pergunta que você deve ouvir muito é quando que a gente pode permitir que as crianças e adolescentes usem as redes sociais? E você já falou do Discord que não é para ter acesso, mas como é que a gente monitora nas outras redes? Por que eu acho que tem essa coisa que você falou muitas vezes, a gente não só confia, mas tem a questão da privacidade,
talvez seja difícil você dar a liberdade que você gostaria para o seu filho e, ao mesmo tempo, monitorar. Como é que você sugere, em que idade que isso deve acontecer e como que você recomenda que a gente faça essa monitoria de controle, permitindo que a criança tenha sua independência, de certa forma, mas mantendo esse controle de uma forma pra ele ter um uso seguro?

Vanessa: Bom, hoje em dia, já existem vários países do mundo que estão banindo o uso de celulares nas escolas, por exemplo, por entender que isso é extremamente nocivo para a saúde mental dos alunos, das crianças e dos adolescentes, que param de conviver uns com os outros dentro da escola, que é um espaço de convivência e de aprendizagem da convivência, e ficam se relacionando com o objeto. Vários países já baniram, então França, Inglaterra, Holanda, Grécia, Portugal, Itália, outros países estão estudando banir, então acho que é importante para a gente ter em mente, como o celular não é algo que a gente precisa incentivar que uma criança use. Então, a primeira coisa, assim, para quem tem filhos ainda crianças, ainda pequenos, a primeira coisa é tentar postergar o máximo possível o início desse uso dessa tecnologia. Então, dar o celular mais tarde para o filho já é a primeira medida boa, assim, tentar adiar um pouco a idade em que a criança vai ter acesso ao celular.

Júlia: Você tem um número que você costuma recomendar? Ou o que você observa? Você tem alguma cartilha, alguma coisa que você tem como se basear? Enfim, o que você costuma recomendar?

Vanessa: Tem uma ONG, uma organização bem interessante nos Estados Unidos chamada Wait Until Eight. Então, o que eles propõem? Que os pais aguardem até oitava série, oitavo ano, que é mais ou menos 13 anos de idade, pra dar o primeiro celular. E eles têm uma coisa muito bacana, porque é o seguinte, quem tem filhos adolescentes sabe disso, que você às vezes quer segurar, mas todos os amigos têm que segurar. E aquela criança que não tem celular, aquele adolescente que não tem celular, ela fica isolada, afastada até das combinações de programas, porque ela não tem celular. Então,
o que essa ONG propõe? Que além de você se comprometer, é só dar o celular para o seu filho a partir da oitava série, do oitavo ano, que você consiga criar uma rede de dez famílias que se comprometem a fazer isso. Então, você escolhe ali, conversa com seus amigos, com os pais dos filhos dos seus amigos, e todos assumem esse compromisso e fazem um documento online se comprometendo. Então, aquilo funciona com a pressão do próprio grupo. Se você tem dez pessoas do grupo que se comprometem a fazer isso e cada uma vai conseguindo seus dez parceiros de compromisso, você consegue uma comunidade que adia ao início do uso do celular. Isso é uma coisa muito legal. A outra coisa que a gente precisa ter em mente é que as redes sociais, por exemplo, o Instagram, TikTok, Facebook, eles têm nos termos de uso a regra de que só podem ser utilizados a partir dos 13 anos de idade. Então, se autoriza que seu filho menor de 13 anos tenha um perfil no Instagram, por exemplo, você está autorizando-o a mentir na própria plataforma dizendo que tem 13 anos ou mais, ele coloca uma data de nascimento falsa para poder ter uma rede que o desenvolvedor do conteúdo diz que não é
adequada para a idade dele. Então, eu acho que isso é uma boa baliza. Se o próprio dono da rede que ganha dinheiro com aquilo diz que o nosso produto não é adequado para quem tem menos de 13 anos, eu acho que os pais têm que ter isso como algo que é importante saber. Da mesma forma que a gente deixa os filhos fazerem outras coisas antes da idade adequada, por exemplo, a maioria dos pais não dá um carro para o filho menor de 18 anos dirigir porque sabe que a idade diminuiu para dirigir a 18 anos, ter carteira e tal. A mesma coisa. E a outra questão é o monitoramento da rede social, mesmo para os maiores de 13 anos ou para aqueles que têm menos de 13, mas já usam as redes sociais. Eu gosto de usar o seguinte exemplo: Se você perguntar para uma família, seu filho pode virar para você, seu filho, sua filha de 14, 15 anos, pode virar para você falar para sua mãe, estou saindo, volto mais tarde. E se você pergunta para sua filha, mas espera aí, você vai aonde, vai com quem, em que horas você volta? E ela responder, espera aí, você está invadindo minha privacidade, não tem que dizer onde eu vou, com quem eu volto. Alguma mãe, algum pai vão aceitar isso?

Júlia: Isso não.

Vanessa: Claro que não. Por que você não aceita que sua filha diga que vai aonde quiser e não tem que dar satisfação? Porque ela não tem idade para tomar essa decisão sozinha. No dia que a sua filha tiver idade para sair sozinha sem dar nenhuma
satisfação e esse dia vai chegar, esperamos? Eu saio sem dar satisfação para minha mãe, você também, porque a gente já atingiu esse momento da maturidade, aí ela pode usar a rede social sem supervisão. Enquanto seu filho não tem maturidade para estar sozinho na rua, sem dizer onde vai, em que horas volta e como vai, com quem volta, ele também não tem maturidade para estar sozinho na praça pública virtual, porque a gente precisa olhar dessa forma. A rede social é a praça pública frequentada por estranhos, então se ele não pode estar em qualquer lugar, frequentado por estranho sozinho, ele também não pode estar numa rede social sozinho sem que você saiba com que ele está e onde que ele está.

Júlia: Eu acho interessante isso, porque a gente que é de uma geração que não passou por isso na adolescência, né, eu acho que a gente consegue entender e falar sobre isso. Eu acho que é interessante a gente saber como falar com os adolescentes, porque eu acho que a rede social, a rede social não, né? A internet, ela não é de todo ruim, ela tem muita coisa boa e que as crianças podem se beneficiar de maneira de aprender diferente, que a gente não teve oportunidade, a gente não pode demonizar isso. O que eu acho que é interessante a gente falar para os pais também que assim, existem a qualidade de como os filhos vão despender tempo na internet, né? Então eu acho que você categorizar a qualidade do programa e falar que a criança pode usar tanto tempo em tal situação para tal fim, já é uma questão também, daí ele pode de repente, a partir da idade que ele tem condição de ficar numa rede social, sob supervisão ficar, mas que aquilo seja um tempo determinado e que ele use esse tempo de internet para pesquisar, para aprender, fazer um curso, para usar de uma forma construtiva, que a internet não é de todo ruim, mas que ela é uma porta para você, que a gente não tem noção de onde eles estão navegando, né? Como é que você faz em relação a acesso, bloquear acesso ou conteúdo que, por exemplo, a gente tem no YouTube, você consegue ali colocar a gente, para criança, né? Você tem alguma ferramenta que você consegue, como é que
você faz isso no computador ou no celular quando a criança tem isso? Você tem alguma forma de monitorar?


Vanessa: Sim, existem vários aplicativos de controle parental que eu acho que todo mundo que tem filho com uso, que tem né, o filho que usa o computador ou que usa o celular, o seu próprio equipamento, os pais precisam instalar um aplicativo de controle parental. As próprias big techs, elas sabem que isso é um risco, que é um problema e desenvolveram aplicativos. Eu gosto de usar o aplicativo que eu uso atualmente,
inclusive para monitorar o uso das minhas filhas, é o custódio, com QU. O custódio, assim, eu acho que ele funciona muito bem, eu já usei outros e existem vários, por exemplo, a Apple tem um monitoramento parental da própria conta da Apple, então quando você cria lá o seu ID Apple, tem uma opção de criar um compartilhamento familiar e você cadastra o equipamento celular dos filhos, por exemplo, o iPhone dos filhos, você coloca lá que é de criança ou de adolescente e você faz essas regras de utilização. Eu acho que é importantíssimo que haja um aplicativo de monitoramento parental, existem vários né, e aí cada um pode procurar aquele que acha que é mais
adequado às suas necessidades. E também algum aplicativo de geolocalização, porque as crianças, elas podem ser sequestradas, elas podem ser aliciadas por alguém que leva elas e aí nesse momento é importante tentar localizar pelo menos o telefone para saber onde tá. Outra questão que é importante é ter as senhas e o login das redes sociais, logado no equipamento dos pais, porque se a filha desaparecer, se o filho dessa filha desaparecer em algum momento, a primeira coisa que a polícia vai perguntar para poder investigar o desaparecimento é com quem ele falou pelas redes sociais e se você até sabe, pode usar o celular do seu filho, sabe a senha do seu filho para olhar, mas se você não tem isso logado no seu telefone, nesse momento você não vai conseguir recuperar essas conversas e ver o que tá acontecendo. E outra questão importante assim é monitorar também o tempo de uso, assim, eu acho que tempo de tela é fundamental, eu acho que o grande problema hoje, o maior de todos é, eles estão todos viciados no uso de telas e eles usam telas sem limites e o que a gente vê é que parece que os pais não têm ideia ou não percebem o tamanho do problema, porque eu vou dar o seguinte
exemplo, se o meu marido, né, se o nosso cônjuge tiver ali o dia inteiro de segunda a segunda, desde a hora que acorda até a hora que vai dormir, por exemplo, bebendo álcool, né, ingerindo álcool, provavelmente a pessoa que tá ali com ele, o parceiro, a parceira dele vai falar assim, olha, você tá com um problema com álcool, acho que você precisa de ajuda, você tem que diminuir a quantidade de álcool, você não tá conseguindo parar, você quer ajuda, quer fazer tratamento, alguma coisa assim. Ninguém vai achar ok uma pessoa adulta ficar de segunda a segunda bebendo álcool ou usando outras drogas da hora que acorda até a hora que vai dormir, só que a gente vê os adolescentes, até crianças, usando o celular da hora que acordam até a hora que vai dormir o dia inteiro e a gente não acha que isso é um problema. As pessoas olham isso acontecendo, os adolescentes fazem isso dez horas por dia no celular e ninguém acha que isso é um problema, mas é um problema, isso é um vício. O cérebro deles já está no modo de descargas contínuas de dopamina. O cérebro desses adolescentes está agindo como um cérebro adicto numa substância entorpecente. A gente já tem estudo já e até exames de imagem que mostram que o cérebro de uma pessoa que é viciado em redes sociais quando ele tá ali recebendo interações, por exemplo, fez uma postagem no Instagram, tá recebendo likes, tá recebendo curtidas, tá recebendo comentários, o sistema de recompensa no cérebro dele é igualzinho de uma pessoa que é adicta em cocaína e tá sob o efeito da droga. A gente precisa olhar pra isso, é uma questão de saúde, eles estão viciados. Uma coisa muito importante os pais fazerem é estabelecerem um tempo diário de uso. Acho que uma hora por dia pra quem é mais novinho, duas horas, o máximo três horas para os adolescentes mais velhos, não dá pra usar mais que isso.

Júlia: Isso a gente tem até estabelecido pela Sociedade Brasileira de Pediatria e a Organização Mundial de Saúde, acho que todo mundo fala na mesma língua, né, porque daí previnem todas as questões. E eu acho que é interessante quando você olha isso, sinais de abstinência, você tava falando de algo que eu tava pensando nisso, né. Quantas pessoas hoje conseguem sair de casa sem o celular? Ou conseguem, né, vai comprar um pão e fala, ai, tô sem meu celular. E conseguem ficar sem acessar a gente mesmo, né. Eu acho que um pouco disso também é um exemplo e criar regras da casa, né, de desconexão e de maior conexão nas famílias. Eu vejo muito isso que às vezes tá como enquanto a criança tá, o pai também tá, porque aproveita ali, cada um tá na sua rede e
no fundo é uma doença da família também, né. Ninguém mais faz refeição conversando, celular até na mesa. Então eu acho que é legal você fazer essa cartilha também de pros pais seguirem alguns desses conselhos também de exemplo, né.

Vanessa: Sim, isso é importantíssimo, porque a criança aprende através do exemplo. E muitas vezes o celular ele é dado pelos pais para a criança como para sossegar a criança e os pais terem tranquilidade. Porque os pais às vezes não estão disponíveis, não querem tentar ter trabalho, né, e preferem, por exemplo, jantar com calma e deixar a criança ali lobotomiazada pela tela, né, do que ficar dando atenção, do que ficar conversando. E aí eu acho que realmente é uma educação da família e os pais terem auto crítica de ver também se eles também não estão viciados. Aqui na minha casa a gente tem uma regra de que a gente faz o celular para mesa, para mesa da refeição, né. Então a gente faz uma refeição juntos, é proibido o celular em cima da mesa, de ninguém, que não adianta proibir as crianças e deixar os adultos usando o celular.

Júlia: Sim, aqui em casa também assim, mas eu acho que é engraçado que a gente fala, você falou muito de adolescência e dessa fase, mas eu acho que a gente às vezes induz esse problema nos bebês e nas crianças. Esse uso descompromissado no começo, ah, é só quando vai sair, é só quando tá na fila, é só quando vai comer, é só quando eu vou no restaurante, é só, assim, o que eu vejo muitas vezes é que as pessoas vão se habitando porque é prático, eu dou a tela quando é o último recurso, eu não tenho nada mais, então se cerque de outras formas de entreter as crianças, porque às vezes quem cria esse vício inicial somos nós mesmos, né.

Júlia: E você comentou sobre as escolas, como é que você tem visto as posturas? Porque às vezes eu acho isso, as vezes as mães trazem para a gente assim, olha, eu consigo controlar em casa, mas agora tem tarefa em casa, agora ele usa o tablet na escola e muitas vezes eles estão na internet acessando as redes, enquanto estão, então assim, como é que a gente faz isso? Como é que você tem visto a escola como parceira disso?

Vanessa: Bom, em relação ao que você falou primeiro dos bebês e, né, de dar o celular para acalmar a criança, eu acho que tem uma coisa muito importante aí que você falou,
isso é importantíssimo que os pais percebam, que é essa ânsia de evitar que o filho tenha
frustração, ou que o filho fique entediado, ou que o filho fique ocioso, isso é péssimo, né, é péssimo para a educação, para a formação do ser humano. O que a gente tem hoje é uma geração que não sabe lidar com a frustração, só que a vida é feita de frustrações, né, e de vitórias, a gente cria expectativas, a gente se frustra ou não, a gente consegue alcançar aquela expectativa, né, isso faz parte da vida, isso cria resiliência, então é não deixar que o filho passe pela frustração de, por exemplo, ter que ficar esperando, não sei, o pai acabar de comer ou, ao enquanto a mãe está no mercado, ele tem que fazer compras no supermercado, né, e olhando o que tem na prateleira em vez de ficar olhando uma tela. Outro dia eu vi um caso de uma criança que a família precisou sair de um avião, onde eles estavam com uma criança acho que de 8 anos de idade, porque na hora que ele precisou desligar o celular para o avião decolar, a criança entrou em surto de crise de abstinência, então a criança começou a gritar, a chorar, não ficava quieto, não sentava, não ficava com o cinto afivelado e a família foi retirada do avião para o avião decolar. É isso que a gente está fazendo, quando a gente ensina um bebê que ele não pode ficar brincando sozinho com o móbile ou colorindo uma revistinha enquanto os pais comem, ele precisa de uma tela para deixar ele ali hiperfocado, né, a gente está ensinando que ele não pode esperar, por exemplo, o avião decolar e estar lá em cima para poder ligar o celular de novo. E aí como que essa criança vai autorregular a sua frustração se ela foi ensinada desde pequena que ela não pode ter uma frustração, né, então isso é muito importante os pais terem essa percepção. Em relação à proibição do uso do celular nas escolas, as escolas precisam ter coragem de tomar essa decisão e precisam dialogar com as famílias, porque o que eu tenho visto quando eu faço palestra para os pais nas escolas, eu tenho feito muitas palestras e eu sempre falo sobre isso, sobre a importância de banir o uso do celular nas escolas, na hora que eu mostro esse slide, que eu mostro os países que já e as razões para banir o celular das escolas, eu sou aplaudida pelos pais. E as escolas, principalmente os particulares, não proibem porque elas têm medo da reação dos pais, porque elas acham que não vão ser apoiadas pelas famílias, o que não é verdade. Então as escolas sabem que é ruim o celular ser permitido e elas querem proibir, mas elas têm medo da reação das famílias e as famílias querem que as escolas proíbam. Então basta que dialoguem que vão chegar. Mas eu tenho consciência de que verdadeiramente, se esse convencimento não vier de forma orgânica
de cada escola tomar essa postura, eu tenho consciência de que é importante que isso venha através de uma lei, uma lei nacional, uma lei dos estados que proíba o uso do celular nas escolas e a gente está trabalhando para isso. A gente aprovou no Fórum Nacional do Juízo da Infância, mês passado, todos os juízos da infância da Justiça Juvenil do Brasil se reúnem em fórum e aí a gente aprovou então uma recomendação ao Congresso Nacional que elabore lei banindo o uso do celular nas escolas.

Júlia: Eu confesso que eu tô um pouco assustada, eu sou uma defensora contra a tela, mas mesmo eu que consigo ver todos esses aspectos e que faço isso na minha casa, que faço essa luta diária pra tentar falar pros pacientes todos os dias de o quão não serve a
tela, até eu tô um pouco assustada que a dimensão é maior mesmo do que a gente consegue ver e às vezes é isso, tá todo mundo correndo e isso vai sendo negligenciado até um ponto que às vezes não tem retorno. A gente tá vendo casos extremos aí, parece pra gente que é nunca vai acontecer comigo, mas é isso, até que acontece com alguém próximo, enfim. Então eu fico muito feliz de ver que esse esforço também não é só a gente de oftalmologia por um lado, vocês, então tá todo mundo vendo o quão nocivo a tela é. Eu acho que teve esse boom que a gente não sabia como lidar, a gente mesmo, então tá na hora de parar e pensar e reformular mesmo a nossa relação como e o cuidado da criança.
Gostei muito do bate-papo, queria que você tenha alguma mensagem final aí pros nossos ouvintes que você queira falar.

Vanessa: É, pra deixar aqui uma conclusão, né, eu sei que é um tema que gera muita angústia das famílias, né, eu mesma fico angustiada, se eu pudesse voltar atrás e se eu soubesse há 5, 6 anos atrás quando minhas filhas ganharam o primeiro celular, se eu soubesse tudo o que eu sei hoje, eu teria feito diferente.

Júlia: Que idade suas filhas ganharam o celular?

Vanessa: Olha, a minha filha mais velha, que hoje tá com 16, ela ganhou com 11, só que eu só deixei ela ter rede social quando ela fez 13, ela ganhou o celular, mas era só pra falar no WhatsApp. Mas depois a mais nova, ela foi atropelada pela pandemia e aí se eu não deixasse ela ter celular, ela não seria como ter contato com nenhuma amiga, então acabei antecipando.

Júlia: Que foi um problema pra muitas famílias, né, a pandemia.

Vanessa: É, foi um problema.

Júlia: Eu gosto de falar isso também, a pandemia já passou, né, às vezes muita gente fala, eu falo assim, ah, mas a pandemia, eu falei gente, tudo bem, isso foi, já, agora tá na hora de repensar e falar, olha, já passou, não tem mais essa necessidade, vamos recetar, né, vamos desconectar pra não usar mais essa desculpa.

Vanessa: Mas o que aconteceu foi que assim, naquela época eu não sabia que existia esse aplicativo de controle parental, nem sei se existia, mas assim, eu não conhecia. Então assim, eu até liberei com algumas regras, mas eu não tinha como monitorar. Então hoje em dia, por exemplo, minhas filhas têm tempo de uso, quando dá o tempo de uso, o telefone dá os bloqueia, porque o custódio, que é esse aplicativo que eu faço, ele bloqueia o telefone. Durante o período da noite, que elas têm que dormir pra ir pra escola, dia seguinte, ele não funciona, ele aparece, lost phone, elas não conseguem pegar o celular de madrugada pra ver o que foi postado no Instagram ou pra mandar uma mensagem pra uma amiga, não tem como, né, e isso eu posso ajustar de acordo com as regras de cada família. Então eu teria feito isso diferente, mas o que eu quero dizer assim pra todo mundo, pra eu deixar aqui um encerramento, é que não se sintam culpados de dar limite pros filhos de vocês, né, não se sintam culpados de dar limite, porque limite é amor. Então eu acho que as pessoas ficam com essa crise de ah, eu vou
invadir a privacidade, eu vou desagradar meu filho. Não tem problema, melhor você desagradar com amor do que ele depois ter que ter o limite do lado de fora, porque o mundo dá limites, né, não existe isso lá, não vou proibir. O mundo proíbe um monte de coisas, né, a gente não pode fazer tudo que a gente quer. E é melhor aprender dentro de casa com gentileza, com carinho, com afeto, do que na rua, que vem só pela força, né.

Júlia: Não se martirizar pelo que já foi, né, porque às vezes eu acho que muitas pessoas já tomaram um caminho, né, ou já as crianças já estão acostumadas e eu acho que é isso também, às vezes se você tomou conhecimento agora, muda e daqui pra frente é sempre uma oportunidade de fazer melhor, né.

Vanessa: É, e até dizer pro filho, olha, eu e a mamãe errou, o papai errou, a gente não sabia o que eu sei agora e eu vou voltar atrás. Até pra ensinar que a gente pode errar e voltar atrás, né, ninguém é perfeito.

Júlia: Sim, sim, nossa, quanta coisa boa. Gostei muito do baixo-papo, Nessa, muito obrigada por estar aqui hoje. Foi um prazer ter você.

Vanessa: Obrigada, Júlia, eu que agradeço.

Júlia: E pra finalizar, o Ministério da Justiça tem o tutorial sobre como fazer o controle parental em cada mídia. A gente vai colocar isso na descrição do episódio pra vocês acessarem e terem mais informações.
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